poema


O crepúsculo do ilícito

Tu, de tetas escorridas,
Com toda a tua calma,
A tua roupa interior manchada de nódoas, os teus
Braços caídos.
E esses teus dedos saciados pendendo
Da palma das mãos.

Os teus joelhos um para cada lado
São como duas esferas pesadas;
As rodelas sobre os teus olhos parecem
Vagens de lágrimas;
Presas às tuas orelhas,
Duas enormes argolas de ouro, horríveis.

O teu cabelo sem vida, espalmado numa trança
À volta da cabeça.
Os teus lábios, alongados por palavras sábias
Mas nunca ditas.

E na vida que vives, já o esgar
Dos mortos.

Vêem-te sentada ao sol,
Adormecida;
Lembrando a suave graça que costumavas ter
E não conservaste,
Lamentam como em ti estão sepultados
Os altares da luxúria. (…)

Enquanto as outras definham na virtude,
Tu foste vida.

Ver-te-emos a olhar o sol
Por mais alguns anos,
Tendo sobre os olhos rodelas que parecem
Vagens de lágrimas;
E duas enormes argolas de ouro, horríveis,
Presas às orelhas.

Djuna Barnes, in O Livro das Mulheres Repulsivas, ed. &ETC, 2007