Durante quanto tempo é possível enganar toda a gente?


Não há qualquer dúvida que os ataques de 11 de Setembro de 2001 foram um evento fundamental e determinante na História do nosso tempo. A história oficial dos acontecimentos daquele dia foi utilizada para justificar praticamente toda a política externa dos Estados Unidos durante a última década: desde a infame Guerra ao Terrorismo, que tantos direitos e liberdades retiraram a cidadãos de todo o mundo, até à noção de Império Americano, nunca até aqui vozeada de forma tão clara pelos políticos daquele país, passando pelo estabelecimento do perigosíssimo precedente no direito internacional da possibilidade de atacar preventivamente uma nação independente, como aconteceu no caso do Iraque.
A versão oficial do 11 de Setembro é, mais do que tudo, um Mito. Na linguagem corrente, um mito é uma história acreditada por muita gente, mas que não corresponde à realidade. Um Mito, com letra maiúscula e utilizado no sentido filosófico ou teológico da palavra, é uma história orientadora e mobilizadora para determinado povo, uma história que recorda às pessoas quem elas são e porque é que fazem aquilo que fazem. Mas apesar da classificação de Mito, neste último sentido, não implicar necessariamente que a história em questão seja falsa, para ela cumprir a sua função orientadora e mobilizadora é fundamental que seja acreditada pela maioria das pessoas, na nação ou comunidade a que ela diz respeito.
Na narrativa fabricada dos acontecimentos de 11 de Setembro, os Estados Unidos, na sua inerente bondade, foram atacados por fanáticos muçulmanos que odeiam a liberdade de que aquele país desfruta e tenta levar a todo o Mundo. Desde aquele dia fatídico, esta história foi cuidadosamente orquestrada e preparada para servir como Mito. Por exemplo, no dia seguinte ao 11 de Setembro, o Presidente George W. Bush declarou publicamente a sua intenção de “embarcar numa luta monumental do Bem contra o Mal”. 24 horas depois, rodeado por um pastor evangelista, um cardeal, um rabi e um imã, o Presidente Bush deu um sermão na Catedral Nacional de Washington, em que dizia:
“ […] A nossa responsabilidade para com a História é bem clara: responder a estes ataques e livrar o Mundo do Mal. Guerrearam-nos recorrendo à dissimulação, à mentira e ao assassínio. Esta nação é pacífica, mas torna-se feroz quando enraivecida. […] Em todas as gerações, o Mundo produziu inimigos da liberdade humana. Eles atacaram a América porque nós somos a casa da liberdade e os seus defensores, e o compromisso dos nossos pais é agora o chamamento do nosso tempo. […] Pedimos ao Deus Todo-Poderoso que vele pela nossa nação e nos conceda paciência e determinação para tudo o que nos espera. Que ele guie sempre o nosso país. Deus abençoe a América.”
Através deste evento sem precedentes, em que o Presidente dos Estados Unidos fez uma declaração de guerra contra desconhecidos e do interior de uma catedral, a história oficial do que aconteceu naquele dia foi sacralizada e qualquer dúvida que se levantasse acerca da sua veracidade passou a ser considerada um sacrilégio. Este estado de espírito mantém-se até hoje nos principais meios de comunicação de massas.
É também desde essa altura que, quando alguém, dentro ou fora daquele país, pergunta que direito tem o Governo dos Estados Unidos de invadir outros países, de deter pessoas indefinidamente e sem acusação, ou até de praticar inúmeras ilegalidades dentro das suas próprias fronteiras, recebe sempre a mesma resposta: 11 de Setembro. E quem quer que invoque princípios democráticos ou direitos humanos é acusado de ter uma mentalidade pré-11 de Setembro.
Mas 10 anos passados, como é que a história oficial se tem aguentado? A resposta é simples e directa: não muito bem. Vários elementos da Comissão Oficial de Investigação do 11 de Setembro escreveram livros, dissociando-se, parcial ou totalmente, das conclusões obtidas. As famílias das vítimas continuam a afirmar que têm imensas perguntas sem resposta. Formaram-se inúmeras associações (de arquitectos, engenheiros, pilotos, bombeiros, docentes, cientistas, familiares de vítimas, etc.), nos Estados Unidos e fora dele, a reclamar o conhecimento da verdade acerca do que se passou, ou simplesmente a afirmar que a história oficial não bate certo.
Assim, e dado o papel que essa história desempenhou e desempenha ainda na modelação do nosso presente e na formação do nosso futuro, uma das perguntas mais importantes do nosso tempo, para quem ama a liberdade e pretende compreender a realidade que o rodeia para lá da espuma dos dias, é se esta história, para além de ser um Mito no sentido religioso, o é também no sentido corrente e pejorativo, ou seja, uma história falsa, que de forma alguma corresponde ao que aconteceu na realidade. E tão importante quanto isso, para aqueles que pretendem ajudar a alterar o rumo da geopolítica que os Estados Unidos, enquanto potência maior no xadrez político mundial, ditou ao resto dos países ocidentais tradicionalmente seus aliados, é trazer esse debate para a praça pública, expor a mentira mitificada, e obrigar assim o povo americano a colocar em questão os pressupostos dessa política iníqua de imperialismo mundial.